Não quero ser aqui a "advogada do diabo", nem do "meliante", tampouco do "monstro". Mas cada vez que acontece algo brutal como esse que aconteceu hoje na escola de Realengo, no Rio - e já aconteceu nos EUA uma porção de vezes - além de tristeza e indignação, é claro, sempre penso lá no fundo: "Meu Deus, o que essa pessoa passou pra cometer tamanha barbaridade?"
E é isso que me assusta, me desconforta e até me irrita. Mesmo. E me irrita ainda mais, o fato de que pra conseguir expor o que penso, acabo tendo que usar frases feitas que já foram tão marteladas, porém tão pouco PENSADAS e levadas em consideração.
Continuemos, no entanto, meu povo.
A violência - com perdão da primeira expressão banal - é uma faca de dois gumes. Vivemos num mundo pirado, onde quatro pessoas almoçam na mesma mesa e não se falam, cada um no seu smartfone umbigal. Onde em pequenas relações pessoais ninguém se escuta, uns galgam seus sucessos boçais em cima de outros, e a vaidade capital reina em cada centímetro cúbico de cada sala de reunião (leia-se ministérios, empresas, lojas, teatros, repartições, salões de cabelereiro). Num mundinho onde entram no elevador e não conseguem mais dizer um: bom dia". Aqui onde todo mundo já ouviu que - atenção que lá vem a segunda expressão: "Cada ação corresponde à uma reação" - queira vc chamar isso de KARMA ou de 3˙Lei de Newton. Tanto faz. Todo mundo já ouviu falar, decorou, e num entendeu porra nenhuma, pelo jeito. Esse mundo de hoje que até (finalmente!) já se fala sobre bulling e há uma certa ciência (de estar ciente) do que até pouco tempo atrás significava apenas uma criança esquisita, alvo de piadas dos colegas por esse motivo justificável - ora, ele é diferente, não é?
Todas essas citações acima formam uma equação delicada e complexa, como aquelas das aulas de física da 8˙série que a gente não conseguia solucionar - só o esquisitão é que conseguia.
Uma soma de descaso, desinteresse, falta de educação, respeito e cortesia com o outro - o humano, a pessoa, o vizinho, o colega, o esquisitão, o gordinho, a dentuça... e assim vai.
O ZERO interesse do governo de se ter um sistema de saúde de qualidade neste país, onde tenhamos além de uma merdinha de um pronto-socorro (que mais parece uma tenda de campanha de um campo de concentração) que se recebe alguém que acabou de sofrer um corte ou um infarto, uma equipe de médicos pisquiatras e psicólogos decentes e especializados para tratar a cabeça de todo mundo que precisasse.
Todo mundo passou alguma merda na infância - uns mais, outros menos. E todo mundo tem direito a errar, acertar, voltar atrás, pedir desculpas e ter tratamento.
O problema é quando fica tarde demais e essa equação fica enorme, cheia de variáveis voláteis e latentes, e supercomplexa de se resolver.
O que eu chamo de equação insolúvel é o que a sociedade chama de monstro, meliante, demônio.
O que aconteceu em Realengo, Colombine, Winnenden, na Universidade Virginia Tech, com a menina Eloá, e com tantos outros e em tantos outros lugares, foi terrível, imperdoável, triste. Mas queria cutucar aqui, a necessidade de pensarmos uma forma de solucionar essa equação maldita, antes que nos encontremos novamente em frente à nossas TVs de última geração, sentados confortavelmente em nossas poltronas, assistindo noticiários sanguinolentos em busca de audiência a todo custo e simplesmente exclamarmos um: - Que monstro!
Não basta culpar o monstro. É preciso pensar que tipo de sociedade que cria esse monstro.
2 comentários:
É Paty,
Nesse mundo louco onde o ter parece importar mais do que o ser, esse é o resultado que temos.
Estamos desistindo de nossos jovens, de nossas crianças. Eles não são mais o futuro e sim, o presente consumidor, facilmente manipulável e que proporciona lucro fácil.
Estamos mais mercadoria do que humanos. Esquecemos dos valores e do respeito.
Infelizmente....
Louco é louco.
E não tem muito o que ser feito, eu acho. Pau que nasce torto... O que temos que torcer é pra não cruzar com um.
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