12/06/09

Também odeio esses "atores"

Como é bom ler coisa boa. Estou lendo "Vacaciones" da Ana Paula Barbi, a Polly, do "Te dou um Dado". (http://tedouumdado.virgula.uol.com.br/). O livro tá disponível pra download no site dela (http://ratitomamita.com/blog.html), é de um bom humor incrível. Ontem li um trecho, que resolvi postar, com a devida autorização, claro. É um pedaço, que aparentemente, eu, atriz, formada em teatro, acharia radical. Mas, pelo contrário, é exatamente esse tipo de coisa que eu odeio e tenho comentado muito com alguns amigos de profissão, nesta capital/província. Polly, querida, faço minhas suas palavras. Obrigada por todo bom humor. "(...) eu achava que odiava atores mas daí descobri que também odeio teatro em geral. não a arte propriamente dita, mas peças medíocres interpretadas por meia dúzia de neo-hippies-pseudo- intelectuais que pegam um pandeiro, improvisam chocalhos com grãos de arroz e latas de nescau, colocam uns trapos sujos com carvão e resolvem invadir a porra do seu abrigo para interpretar poemas de algum fracassado que morreu antes de receber o devido reconhecimento. o reconhecimento de que era uma merda. Ok, talvez eu esteja me transformando em uma resmungona crôni- ca, mas é foda. Eu só queria dormir, mas o projeto porto alegre em cena não permi- tiu. o palco era bem na frente do meu quarto e a peça teve umas três horas de duração. das dez à meia-noite. meia-noite de quarta-feira. esse povo não trabalha? tipos, eu querendo dormir e eles cantando e batucando sobre moradores de rua. minha vontade era subir no palco, dizer “um minuto da sua atenção por favor” e declamar um poema sobre a moradora de rua que queria dormir para poder traba- lhar no dia seguinte mas não conseguia porque atores neo-hippies invadiam o seu abrigo para apresentar uma peça medíocre com mú- sicas pobres, mas não achei as rimas necessárias. Tá, eu sei que meia-noite não é muito tarde, mas dormir naquele lugar é uma arte. eu tenho que deitar antes de todo mundo, me cobrir até a cabeça – esteja quarenta graus na sombra ou não – e entrar em coma antes que qualquer uma das minhas companheiras de quarto resolva deitar também. porque, rapaz, se elas deitarem e eu estiver acordada, danou-se. elas tomam uns quatro calmantes cada e roncam como um aparador de grama e depois que elas começam eu não consigo mais pregar o olho. daí eu estava checando a programação e vai rolar a mesma peça hoje e amanhã. uêba. vou ver se me emprestam calmantes ou se eu termino o poema sobre a moradora de rua que queria dormir para poder trabalhar no dia seguinte mas não conseguia porque atores neo-hippies invadiam o seu abrigo para apresentar uma peça medíocre com músicas pobres." Ana Paula Barbi - em Vacaciones

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