15/11/08

A Borracheira ou Como Zé desperta mecanismos

Fui ao Rio de Janeiro no comecinho de outubro só pra assistir a estréia do filme de um amigo meu, o "Se nada mais der certo" do Zé Eduardo Belmonte. Nunca perdi uma estréia do Zé e esta eu não ia perder mesmo. Gosto demais dele, gosto principalmente dos filmes dele e do jeito que ele arruma, sei lá como, de mexer com a gente. Meu amigo Arthur diz que os filmes do Zé apertam alguns "botões" nele que ele esquece (mesmo que seja de propósito) ou nem sabe que os tem. Em mim, deixam-me sempre num estado catártico, e desta vez num foi diferente. Cheguei numa sexta-feira à noite. Sozinha. Liguei pra alguns amigos, mas não achei ninguém pra tomar uma única cerveja num boteco qualquer. Fui sozinha. Já era até bem tarde, mas eu já tava ali, desperta, e resolvi curtir sozinha mesmo, faz bem ficar sozinha, ainda mais numa cidade que ninguém me conhece. E soube que esta sensação de estar só já é um sinal do processo "Zé Eduardesco". No sábado de manhã, encontrei com o pessoal da equipe do filme, e passamos a tarde juntos, primeiro no terraço do hotel, e depois no final de uma feijada Blasè desse povo de cinema/tv/babiloniariodejaneiro. Eu não comi quase nada. Eu só me observava. Sentia que todos os nossos movimentos de grupo, eram na verdade uma proteção, uma necessidade de ficar todo mundo junto, uma distração de nós mesmos pra uma negar à uma ansiedade e euforia que sentíamos. Bem, chegada a hora, fomos todos pro cinema. aquele bafafá todo na porta da sala, tentando espiar a cara dos jurados, vendo quem chegava, procurando rastrear expectativas, tentando espantar os espiritos de porco de gente invejinha... e eu fiquei um bom tempo parada no cantinho da entrada da sala de cinema, pensando nisto tudo, se era só eu que sentia aquelas coisas. Meus botões, como diz o Arthur, todos em alerta, mesmo os que eu não lembrava mais que tinha. E eu olhando tudo, pensando como além de tudo as pessoas são etéreas, e magras (rs). Quando finalmente o filme começou, eu já etsva entregue, pronta pra ser abduzida mais uma vez por aquela sensação de desconecção, pronta pra me render à provocação do Zé. E foi demais. O Zé trás logo no primeiro momento do filme uma condição imútavel absoluta pra o personagem principal, onde não há nada que ele possa fazer pra mudar a situação. E é de um jeito tão ferino, que não tem nada de sobrenatural, pelo contrário, o personagem é um falido econômico, por que a empresa que ele trabalhava quebrou e declarou que ele tinha recebido uma quantia absurda de dinheiro em ações, ou qualquer coisa do tipo. E ele tem que sobreviver. Só isso. Sobreviver emocionalmente também. E apartir daí é uma dança de emoções e boas atuações,com personagens lindos, com uma dignidade, com sangue nas veias. Cenas que provocam nossa alma, nossos desejos, e muitas destas sensações que todos nós já sentimos e nem sabemos o nome. É esse o poder do Zé: despertar esses sentimentos da gente, que são tão raros, quem nem nome têm. A gente inventa um jeito de descrevê-los, isso quando consegue. Eu saí da sala de cinema em silêncio. Meu rosto marcado com a quantidade de vezes que eu passei a mão nele, já deviam dizer alguma coisa. E mais uma vez, todos nós, estavamos arrumando uma forma de driblar as sensações, indo à tal festa do filme. Era um lugar esquisito, cheio de pitboys enormes, nada a ver com o filme ou com a gente. Eu resolvi entrar na dança pra ajudar a achar um canto, por que àquela altura do campeonato, eu precisava mesmo era beber. Em vinte minutos descobrimos o lugar e despejamos-nos todos, e só assim finalmente eu podia beber alguma coisa. E de repente eu estava sozinha. Numa lombra só minha, de novo, como na sala de cinema assistindo aquele monte de gente em volta de mim. Bebi uma caipirosca. Dancei sozinha. pensei sozinha. Bebi outra caipirosca, e olhava e pensava no um milhão de coisas que o filme me fez sentir, e nesta onda, durei a noite toda, tomando minha terceira caipirosca. E entrei numa bola de neve louca, num turbilhão de sensações, de zonzeira, de desejos, de angustias, de euforia, que eu quebrei. Com tudo aquilo, lembrei que tinha bebido e viajado de estomago vazio, e foi então que veio a borracheira. Sabe, a borracheira do Daime? POis é. Esta foi a Borracheira do Zé. Saí da festa, e fui pro hotel. Tirei toda a roupa, e pus tudo pra fora, tudo tudo tudo. Entrei embaixo do chuveiro e sentei ali, por sei lá, uma hora inteira. pensei que a catarse estava completa. Me enrolei na toalha e fui pra cama. Encostei na parede, einda enrolada na toalha, pensando em como no fim de tudo me sentia bem. Acordei no dia seguinte, dobrada pra fora da cama, com a toalha ainda na cabeça e outra enrolada no corpo, com um bilhete lindo da minha colega de quarto que tinha ido embora. Logo encontrei o Zé, que me disse que ele também estava se sentindo assim, desconectado. Ele disse que a sensação era a mesma de ter perdido a virgindade. Eu sei, Zé. Sei bem como é. E continuamos a nadar em silêncio em direção a qualquer lugar.

1 comentário:

vini_freak disse...

Uau, medo do poder do Zé! Esse sentimento de estar sozinho numa cidade, sentimento não-tenho-ninguém é realmente foda.
Adorei o blog e a historinha, vc escreve super bem. :)
bjos
ps: vini do arthur